Canelas foi vila e sede de concelho até 31 de Dezembro de 1853. O estatuto de freguesia foi-lhe atribuído no ano de 1976.
Em 1193, em canelas, foi dado por D. Sancho I um casal a dois jograis, Bonamis e Acompaniado, em pagamento de uma peça que lhes havia sido encomendada pelo Rei. Estes jograis terão sido possivelmente os primeiros artistas de teatro que se conhecem na História de Portugal. Em 1202, D. Sancho I doou Canelas à Sé de Lamego, tendo sido coutada por D. Sancho II, em 1225. Em 1205, o povoado de Canelas mudou-se de S. Gonçalo de Curvaceira, onde fora edificada, para o lugar do Assento, devido a uma invasão de formigas, que tornara as casas inabitáveis.
A localização geográfica da Fonte de Milho, com excelente visibilidade sobre o rio Douro, permitia que os romanos avistassem os inimigos, fazendo-os prisioneiros. Ao torturá-los, cortavam-lhes as canelas. Daí o nome da freguesia.
Apesar da possível origem castreja, Canelas possui vestígios de ocupação romana, dos quais são exemplo as ruínas da Fonte do Milho, classificadas pelo IPPAR como sendo de monumento nacional. Russel Cortez escavou a Fonte do Milho em 1940, tendo sido encontrada uma piscina, com o pormenor do mosaico policromo, apenas existente em Conímbriga.
Canelas honra-se de ser o berço do ilustre escritor duriense, João de Araújo Correia, que a todos orgulha pela obra que dedicou ao Douro e às suas gentes e do General Silveira, a quem foi concedido o título de Conde de Amarante, pelo heroísmo demonstrado na defesa da cidade. Silveira foi o primeiro português que obteve vitória contra as tropas francesas ao reconquistar Chaves.
A contrastar com os xistos do casario humilde, erguem-se casas brasonadas que testemunham a nobreza de muita gente que passou por Canelas. A ostentar o passado, a Estação Arqueológica da Fonte do Milho, ruínas do Palácio, onde habitou temporariamente o Marquês de Chaves e o Conde de Amarante, as ruínas do hospital, casas brasonadas, como a Casa do Covelo (edifício oitocentista), solares, fontes e cruzeiros.
O BERÇO DO TEATO EM PORTUGAL
De facto, o único documento existente é uma carta de doação, datada de Agosto de 1193, do D. Sancho I e sua mulher de uma propriedade, na freguesia de Canelas (Peso da Régua) ou também conhecida por Canelas do Douro, aos irmãos Bonamis e Acompaniado como pagamento de um arremedilho que estes representaram na corte. A doação seria confirmada mais tarde (14 de Janeiro de 1220) pelo rei D. Afonso II a Bonamis e aos herdeiros de Acompaniado.
O documento, tal como transcrito por Sousa Viterbo, no seu Elucidário, diz o seguinte: "Nos mimi supranominati debemus Domino nostro Regi, pro roborationiunum arremedilum". Tanto bastou para que vários autores, desde Teófilo Braga, ainda no século XIX, a Luiz Francisco Rebello, aqui encontrassem a origem do teatro português pré-vicentino. Rebello define mesmo o arremedilho como "a célula originária do teatro português".
LENDAS E MITOS
Ao longo dos tempos, foram várias as histórias transmitidas de pais para filhos. Em Canelas, a lenda mais conhecida é a do Milagre sobre a Raiva.
O milagre de 1764 conta a lenda de um homem chamado Lourenço Teixeira Pinto Lacerda, membro da alta sociedade, que foi mordido por um cão raivoso, quando passeava pelas suas quintas.
Com o passar do tempo, o Sr. Lourenço começou a sentir-se doente, desconhecendo qual a razão de tão altas febres. Dias mais tarde, o fidalgo, ao passar pelo rio Corgo, viu refletida na água a imagem de um cão, interpretando este sinal como estando com raiva.
Diagnosticado pelos médicos com pouco tempo de vida, só um milagre o salvaria. Aflito, Sr. Lourenço implorou a Nossa Senhora das Candeias que o salvasse daquela enfermidade. Em troca, o Sr. Lourenço comprometeu-se a fazer uma festa em sua honra, até à quinta geração, onde, a cada família, seriam oferecidos um pão bento e uma vela. Nª Senhora das Candeias concedeu-lhe essa graça e o fidalgo, juntamente com a sua família, honraram a promessa feita.
Assim que a família Lacerda acabou de cumprir a promessa, o povo de Canelas encarregou-se desta festa, que se realiza no dia 2 de Fevereiro.
Hoje, esta festa é realizada por meninas que são as mordomas.
Na véspera do dia 2, os pães são distribuídos às famílias da aldeia. Deve, antes, rezar-se uma Avé-Maria a Nª Senhora das Candeias, para que esta ilumine e guie durante mais um ano. A vela é utilizada, em dias de fortes trovoadas, pelas pessoas da aldeia, que as acendem perto de uma janela, com o intuito de afastar as trovoadas.
No dia da festa, uma banda de música percorre o povoado e vai buscar a mordoma, acompanhando-a à Igreja de Nª Senhora das Candeias.
No final da missa, procede-se à nomeação da mordoma para a festa do ano seguinte.
Segundo ditados populares: "Senhora das Candeias a rir, Inverno para vir"; "Senhora das Candeias a chorar, o Inverno está a passar".